
O bilionário e filantropo americano Bill Gates, denunciando a “visão catastrofista” de alguns em relação às mudanças climáticas, pede que a COP30 no Brasil reoriente o debate na “melhoria das condições de vida”, em vez de nas temperaturas ou nas emissões.
O aquecimento global “não levará ao desaparecimento da humanidade”, escreve o cofundador da Microsoft num longo texto publicado no seu site na noite de segunda-feira, poucos dias antes da abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima.
Se as alterações climáticas tiverem “consequências graves, (…) as populações poderão viver e prosperar na maior parte do planeta num futuro próximo”, escreve Bill Gates, cuja fortuna ascende a mais de 100 mil milhões de dólares segundo a Forbes.
O filantropo, que completa 70 anos na terça-feira, acredita que a cimeira de Belém, no início de novembro, “é uma oportunidade para voltar a centrar a atenção na medida que deveria importar muito mais do que as emissões e a temperatura: a melhoria das condições de vida”.
A pobreza e as doenças continuam a ser os maiores problemas da humanidade, disse ele, e enfrentá-los ajudará as populações mais vulneráveis a viver num mundo mais quente.
Embora a comunidade internacional esteja muito longe da trajetória de redução das emissões de gases com efeito de estufa determinada durante o acordo climático de Paris em 2015, Bill Gates acredita que devemos reconhecer os progressos já alcançados nesta área.
“Devemos continuar a apoiar avanços que ajudarão o mundo a atingir zero emissões”, escreve este feroz defensor da inovação como solução central na luta contra as alterações climáticas.
Um objetivo prioritário, segundo ele, deve ser reduzir drasticamente a diferença de custos entre soluções emissoras de CO2 e alternativas livres de carbono, hoje mais caras.
Bill Gates, que deixou todas as funções executivas da Microsoft em 2008 para se dedicar à filantropia, fundou a Breakthrough Energy em 2015. Este fundo investiu mais de dois mil milhões de dólares em tecnologias emergentes, como o cimento de baixo carbono ou a aviação livre de emissões.
A visão de Bill Gates irrita os cientistas, que acusam o bilionário de oferecer uma falsa escolha entre a acção climática e a redução do sofrimento humano. “Na realidade, os dois estão intrinsecamente ligados”, reage à AFP Rachel Cleetus, da associação Union of Concerned Scientists.
“O aquecimento global mina os esforços para erradicar a pobreza e aqueles que visam alcançar os objectivos de desenvolvimento humano em todo o mundo”, acrescenta ela. “O furacão Melissa, uma tempestade alimentada pelas alterações climáticas, é apenas o exemplo mais recente das consequências mortais e dispendiosas das alterações climáticas para nações que já sofrem com situações humanitárias complexas.”
A Fundação Gates, criada em 2000 e inicialmente dedicada ao combate às doenças, nomeadamente através da vacinação, também tem abordado o combate às alterações climáticas desde o início da década de 2010, ao ponto de fazer de Bill Gates uma das figuras mundiais neste domínio.