
Embora garantindo que querem “continuar a eletrificação dos veículos”, os ministérios da Economia e da Transição Ecológica indicam na quinta-feira que irão “defender flexibilidades em termos de neutralidade tecnológica” se forem acompanhadas de medidas de apoio ao emprego na Europa.
“A França deseja continuar a eletrificação dos veículos e defenderá flexibilidades em termos de neutralidade tecnológica, desde que sejam acompanhadas de medidas muito claras para encorajar a preferência europeia que apoie os empregos industriais na Europa”, declaram estes dois ministérios num comunicado de imprensa.
Os Ministros Monique Barbut (Transição Ecológica), Roland Lescure (Economia) e o Ministro Delegado Sébastien Martin (Indústria) pretendem que “a regulamentação europeia sobre as emissões de CO2 dos veículos novos esteja sobretudo ao serviço da produção automóvel na Europa e introduza um verdadeiro incentivo à preferência europeia na indústria automóvel”.
A descarbonização do setor automóvel é vista como um passo fundamental para a UE cumprir os seus objetivos de redução das emissões que provocam o aquecimento do planeta. Mas a proibição da venda de novos veículos térmicos ou híbridos na UE a partir de 2035 é contestada pelos fabricantes de automóveis europeus, que exigem veementemente um relaxamento das regras.
Os grupos automóveis europeus enfrentam vendas de modelos elétricos inferiores às esperadas (nomeadamente devido ao seu preço) e uma concorrência chinesa muito forte. Sem falar nos direitos aduaneiros impostos por Donald Trump.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, comprometeu-se no início de Outubro a “fazer tudo” para levantar esta proibição, respondendo assim ao apelo da indústria automóvel do seu país, atingida pela crise.
– Comissão sob pressão –
O termo “neutralidade tecnológica” é apresentado pelos fabricantes de automóveis que apelam a uma flexibilização da regulamentação europeia: por exemplo, querem a autorização da venda de veículos híbridos plug-in após 2035, ou regras mais favoráveis para combustíveis sintéticos e biocombustíveis.
Nesta fase, a Comissão Europeia garante que mantém o rumo, mas a pressão aumenta: a lei atual previa a reavaliação da medida e dos seus impactos em 2026. O executivo europeu prometeu analisar o assunto no final deste ano.
Para Bercy e o Ministério da Transição Ecológica, “trata-se de produzir na Europa, com componentes europeus, os veículos vendidos na União”. Estes veículos “benéficos para os fabricantes de equipamentos europeus” que “permitem manter e criar empregos industriais na Europa terão de ser apoiados”, escrevem no comunicado.
De acordo com um relatório do Senado publicado recentemente, o sector automóvel emprega 800.000 pessoas em França (350.000 entre os fabricantes, 450.000 entre os fabricantes de equipamentos).
A Federação dos Fabricantes de Equipamentos (Fiev) apela à rápida adoção de regras mínimas de conteúdo local europeu no fabrico de automóveis.
“Como a eletrificação não deve ser sinónimo de desindustrialização, a França pretende favorecer a responsabilidade e o pragmatismo, sem renunciar à ambição ou aos compromissos assumidos com os franceses e com a Europa”, acrescentam Bercy e o Ministério da Transição Ecológica.
Esta declaração surge dois dias depois de França e Espanha terem reafirmado o seu apoio à proibição, prevista para 2035, da venda de novos automóveis com motor térmico na União Europeia. Numa missiva revelada pelo meio de comunicação Contexte e consultada pela AFP, os dois países asseguram que a revisão prevista pela Comissão não deve “em caso algum pôr em causa o objectivo de emissões zero” para 2035.