Damian Figueredo está encantado por ter sobrevivido ao desabamento de sua casa, destruída pelo furacão Melissa no leste de Cuba. Mas ele não sabe como irá sobreviver, numa ilha já severamente testada pelas dificuldades económicas.

Este ex-mineiro de 52 anos, de corpo frágil, desloca-se com dificuldade devido a um acidente numa mina de ouro há sete anos, que o obrigou a reformar-se antecipadamente.

O que foi sua casa em El Cobre, povoado de 7 mil habitantes famoso em toda a ilha por abrigar o santuário da Virgem da Caridade, padroeira de Cuba, nada mais é do que um amontoado de escombros: tijolos, telhas, portas e janelas espalhadas pelo chão.

Mas ele não conseguiu começar a limpar devido à sua saúde debilitada.

“Este furacão acentuou os meus problemas. A minha situação é desesperadora”, diz ele, enquanto sobrevive, sozinho, com uma pensão de 3.000 pesos cubanos (6 dólares no mercado informal de câmbio) que “não é suficiente” para ele.

Morador da cidade de El Cobre, na província de Santiago de Cuba, caminha sobre o telhado de sua casa danificada após a passagem do furacão Melissa, em 29 de outubro de 2025. (AFP - YAMIL LAGE)
Morador da cidade de El Cobre, na província de Santiago de Cuba, caminha sobre o telhado de sua casa danificada após a passagem do furacão Melissa, em 29 de outubro de 2025. (AFP – YAMIL LAGE)

Na terça à noite, ele foi dormir cedo, pensando que seria melhor dormir um pouco enquanto esperava o furacão passar. Depois de devastar a Jamaica, Melissa era esperada durante a noite no sudeste de Cuba.

Foi em sua cama que começou a sentir a fúria dos ventos, que chegavam a 195 km/h. Ele escapou a tempo de sua casa que acabou desabou. Apenas uma parte do telhado da sala resistiu.

“Em poucos segundos, tudo isso teria me esmagado”, explica o homem de cinquenta anos. Até então, sobreviveu graças à solidariedade dos vizinhos que o alimentaram, mas não sabe o que o amanhã trará.

– “Tragédia nacional” –

Morador de El Cobre, na província de Santiago de Cuba, leva seu cachorro para passear entre árvores caídas e linhas de energia, além de casas destruídas após a passagem do furacão Melissa, 29 de outubro de 2025 (AFP - YAMIL LAGE)
Morador de El Cobre, na província de Santiago de Cuba, leva seu cachorro para passear entre árvores caídas e linhas de energia, além de casas destruídas após a passagem do furacão Melissa, 29 de outubro de 2025 (AFP – YAMIL LAGE)

Se Melissa não causou vítimas em Cuba, segundo as autoridades, atingiu uma ilha atormentada por inúmeras dificuldades: queda da produção agrícola e industrial, erosão dos programas sociais, escassez, cortes gerais de energia, inflação…

“Podemos dizer que nos encontramos em circunstâncias extremas”, disse à AFP Rogelio de Dean, 45 anos, sacerdote da igreja do Santuário da Virgem da Caridade de El Cobre, que também sofreu danos materiais.

“A situação de tragédia nacional em que o ciclone nos deixa soma-se agora à já difícil realidade quotidiana do nosso povo”, sublinhou também num comunicado de imprensa a Conferência dos Bispos de Cuba, que lançou um apelo a donativos.

Na verdade, a desordem domina entre os habitantes de El Cobre.

“Este ciclone nos matou, nos destruiu, nós que já estávamos em grande perigo. Agora, obviamente, a nossa situação é ainda pior”, lamenta Felicia Correa, 65 anos, que mora no povoado La Trampa, não muito longe de El Cobre.

Moradores de El Cobre, na província de Santiago de Cuba, observam os danos em sua casa completamente destruída após a passagem do furacão Melissa, 29 de outubro de 2025 (AFP - YAMIL LAGE)
Moradores de El Cobre, na província de Santiago de Cuba, observam os danos em sua casa completamente destruída após a passagem do furacão Melissa, 29 de outubro de 2025 (AFP – YAMIL LAGE)

Até então, os moradores da região só tinham duas horas e meia de eletricidade por dia, dizem. Agora não sabem quando a energia, cortada em seis das quinze províncias do país, poderá ser restaurada, mesmo que as autoridades tenham feito do relançamento da rede eléctrica a sua “prioridade”.

Ao mesmo tempo, está sendo organizado o envio de ajuda humanitária às províncias orientais do país.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Cuba, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, anunciou a liberação de 4 milhões de dólares do fundo de emergência humanitária para Cuba e Haiti, também afetados pelas consequências da Melissa.

A Venezuela enviou 26 mil toneladas de ajuda humanitária ao seu aliado.

Nos Estados Unidos, que impõem um embargo económico a Cuba há mais de seis décadas, o governo de Donald Trump disse que “está ao lado do corajoso povo cubano” e o Departamento de Estado disse estar “pronto para fornecer assistência humanitária imediata, diretamente e através de parceiros locais”.

Uma proposta descrita como “indigna” por Havana. “Se fosse o desejo sincero deste governo apoiar o nosso povo, eles teriam levantado incondicionalmente o bloqueio criminoso e nos retirado da lista de estados que apoiam o terrorismo, onde nunca deveríamos ter estado”, disse Roberto Morales Ojeda, membro do Politburo do Partido Comunista Cubano, no X.

Desde o final de 2021, os Estados Unidos recolocaram Cuba na sua lista de “estados que apoiam o terrorismo”, levando a um reforço do embargo. O ex-presidente Joe Biden retirou-a uma semana antes de deixar a Casa Branca, decisão rapidamente revogada por Donald Trump.

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